Seu ERP hospedado em Frankfurt está lento? O acesso da sua equipe no Brasil ao AWS (us-east-1) sofre com alta latência? Suas videochamadas com a matriz em Nova York travam, apesar de você ter um “link dedicado” de alta velocidade? Se esse cenário é familiar, sua empresa atingiu um platô de maturidade onde a escolha da conectividade deixou de ser sobre “velocidade” e passou a ser sobre arquitetura de rede.

A dúvida não é mais apenas entre Vivo, Claro ou TIM. Para empresas com operações globais, a verdadeira questão é: devo contratar um link nacional ou um Tier-1 Carrier global como Lumen (Level3), Telia ou Cogent?
A escolha errada pode significar pagar um prêmio de 60% por um link global subutilizado ou sofrer com uma latência de 200ms que paralisa a produtividade da sua equipe. Este guia técnico definitivo, elaborado pelos arquitetos de solução do Grupo OC, não é um simples comparativo. É um manual sobre Peering vs. Transit, roteamento BGP e como projetar a arquitetura de rede híbrida ideal para sua operação.

A Diferença Técnica Real: Peering (Tier-1) vs. Transit (Nacional)
Para entender a diferença de performance, você precisa entender como a internet funciona nos bastidores.
O que é uma Operadora Nacional (Vivo, Claro, TIM)?
Pense nelas como as “rodovias estaduais”. Elas possuem uma infraestrutura de “última milha” (last mile) fantástica dentro do Brasil, conectando milhões de endereços. No entanto, para que seus dados cheguem a um servidor em outro país, elas precisam pagar “pedágio”. Elas compram Trânsito IP de um Tier-1 Carrier global. Seus dados precisam passar por múltiplos “saltos” (hops) antes de chegarem ao destino, aumentando a latência.
O que é um Tier-1 Carrier Global (Lumen/Level3, Telia, Cogent)?
Pense neles como os “proprietários das rodovias transcontinentais”. Eles são o backbone da internet. Eles possuem os cabos submarinos e as rotas de fibra que conectam os continentes. Quando você contrata um link direto com eles, você não paga pedágio; você tem acesso direto à via principal. Eles fazem Peering (troca de tráfego gratuita) entre si, garantindo a rota mais curta e rápida para qualquer lugar do mundo.

Tabela Comparativa de Arquitetura: Nacional vs. Global
| Atributo Técnico | Operadora Nacional (Ex: Vivo/Claro) | Tier-1 Carrier Global (Ex: Lumen/Telia) |
| Foco Principal | Cobertura de “Última Milha” no Brasil | Backbone/Rotas Internacionais |
| Modelo de Tráfego | Compra de Trânsito IP (Transit) | Troca de Tráfego Global (Peering) |
| Latência Brasil (Interna) | Excelente (<5ms) | Boa (10-20ms) – O tráfego pode “sair” do Brasil para depois “voltar”. |
| Latência Brasil-EUA | Média (120-150ms) – Rota via parceiro. | Excelente (70-90ms) – Rota direta. |
| Latência Brasil-Europa | Alta (180-220ms) | Excelente (130-160ms) – Rota direta. |
| Cobertura “Última Milha” | Excelente (Milhares de cidades) | Muito Limitada (Apenas PoPs em SP, RJ, etc.) |
| Suporte Técnico | Português (Local) | Inglês (Global/NOC) |
| Preço (100 Mbps em SP) | R$ 1.800 – R$ 2.500 | R$ 3.500 – R$ 5.000 (Prêmio de 40-60%) |
| Integração Cloud (AWS/Azure) | Padrão (via Internet) | Otimizada (Direct Connect / ExpressRoute) |
O Cenário 100% Nacional (Prós e Contras)
- Ideal para: Empresas com 95% da operação no Brasil (varejo nacional, indústrias, serviços locais) que precisam conectar filiais dentro do país.
- Prós: Melhor custo-benefício, excelente latência interna, vastíssima cobertura de “última milha” e suporte em português.
- Contras: Performance ruim para aplicações críticas hospedadas na Europa ou Ásia. Acesso padrão (e mais lento) aos grandes data centers de cloud (AWS, Azure) nos EUA.
O Cenário 100% Global (Prós e Contras)
- Ideal para: Empresas “Cloud-Native” (SaaS, Fintechs) ou multinacionais onde o sistema de ERP/CRM está hospedado na matriz (EUA/Europa).
- Prós: Latência global imbatível. Conexões diretas e otimizadas com os backbones da AWS, Google Cloud e Azure.
- Contras: Custo 40-60% superior. Cobertura “última milha” pífia (você ainda precisará contratar um link local para “puxar” a fibra do PoP do Tier-1 até seu escritório). Suporte em inglês.
A Solução Definitiva: A Arquitetura Híbrida Inteligente (BGP + Múltimos Links)
Para 90% das médias e grandes empresas, a escolha não deve ser “ou um ou outro”, mas sim “como combinar os dois”. A arquitetura híbrida é a solução mais inteligente e com o melhor custo-benefício.
O que é BGP (Border Gateway Protocol) e por que ele é essencial?
O BGP é o “Waze” da sua rede corporativa. É um protocolo de roteamento avançado que permite que seu roteador gerencie dois ou mais links de internet de operadoras diferentes. Com o BGP, você pode criar regras inteligentes.

Desenhando a Solução: O Papel de Cada Link
Como arquitetos de rede do Grupo OC, nós desenhamos a solução da seguinte forma:
- Link 1 (Nacional): Contratamos um Link Dedicado da Vivo ou Claro. Este link será usado para todo o tráfego Brasil-Brasil (acesso a sistemas locais, filiais, navegação geral) e como backup para o tráfego não crítico.
- Link 2 (Global): Contratamos um link de um Tier-1 Carrier (Lumen, Telia) focado 100% no tráfego internacional/cloud.
- A Mágica do BGP: Configuramos seu roteador (com BGP) para que, automaticamente:
- Todo tráfego para a AWS us-east-1 vá pelo Link 2 (Lumen).
- Todo tráfego para a matriz em Frankfurt vá pelo Link 2 (Telia).
- Todo o resto do tráfego (acesso a sites brasileiros, filiais) vá pelo Link 1 (Vivo).
- Se um dos links cair, o outro assume o tráfego total (redundância).
Análise de TCO: O Custo da Complexidade Gerenciada
Vamos comparar o Custo Total de Propriedade (TCO) de 3 arquiteturas para uma empresa que precisa de 200 Mbps de performance total.
- Cenário A (100% Global):
- 1 Link 200 Mbps (Lumen): ~R$ 7.000/mês
- Problema: O tráfego interno do Brasil (filiais) fará um “bate-volta” desnecessário aos EUA, piorando a latência interna.
- Cenário B (100% Nacional):
- 1 Link 200 Mbps (Vivo): ~R$ 4.000/mês
- Problema: Acesso à matriz na Europa com 220ms de latência, causando perda de produtividade estimada em R$ 10.000/mês.
- TCO Real: R$ 14.000/mês (Custo + Perda de Produtividade)
- Cenário C (Híbrido Inteligente – Grupo OC):
- 1 Link 100 Mbps (Vivo) para tráfego Brasil: R$ 2.200/mês
- 1 Link 100 Mbps (Lumen) para tráfego Cloud/Global: R$ 4.500/mês
- Custo da Consultoria e Gestão BGP (Grupo OC): R$ 1.500/mês
- TCO Real: R$ 8.200/mês
Veredito: A arquitetura híbrida (Cenário C) é 41% mais barata que o Cenário B (Nacional + Perda) e oferece 100% de performance em todos os cenários, diferentemente das soluções “puras”.

FAQ (Perguntas de CTOs)
O que é ‘peering’ e por que devo me importar?
Peering é um acordo onde duas redes trocam tráfego entre si gratuitamente. Um Tier-1 Carrier tem peering com quase toda a internet. Uma operadora nacional tem menos peering e precisa comprar “trânsito” (pagar) para alcançar redes distantes. Mais trânsito = mais saltos = mais latência e custo para você.
MPLS ainda é relevante ou o SD-WAN substitui tudo?
O MPLS (uma rede privada e segura) ainda é relevante para conectividade ponto-a-ponto no Brasil, mas o SD-WAN é a tecnologia que gerencia de forma inteligente múltiplos links (MPLS, Link Dedicado, 5G). A arquitetura híbrida que descrevemos é, na prática, a base para uma implementação de SD-WAN de sucesso.

Como a LGPD e o GDPR impactam minhas rotas de dados?
Esta é uma preocupação crucial. Se sua matriz é na Europa, rotear dados de clientes brasileiros (LGPD) através de servidores nos EUA (como no Cenário A) pode criar um pesadelo de compliance. Usar um Tier-1 com rota direta para a Europa (como a Telia) pode ser um requisito legal.
A escolha entre um link dedicado nacional e um global não é “ou um ou outro”. Para a maioria das empresas sérias, a única solução que oferece 100% de performance e o melhor TCO é a arquitetura híbrida. Essa infraestrutura garante a baixa latência para aplicações na nuvem globais e, ao mesmo tempo, a melhor performance e custo-benefício para a operação no Brasil.
Essa arquitetura é a única que garante a qualidade de chamadas de voz globais em um PABX em nuvem e permite a integração perfeita com as redes móveis 5G, como as do TIM Corporativo, criando uma solução de Comunicação Unificada completa.
No entanto, projetar uma rede híbrida, configurar o BGP e gerenciar múltiplos fornecedores (nacionais e globais) é uma tarefa de alta complexidade. O Grupo OC não é um revendedor de links; somos os arquitetos da sua rede corporativa.
Pare de escolher entre custo (Nacional) e performance (Global). Tenha os dois.
